quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Envelhecimento activo e a Emília da Munha

Discute-se o envelhecimento activo e a necessidade de o promover. Há dias, ouvi alguém conhecedor, altamente condecorado, afirmar que devemos ensinar aos nossos filhos que têm uma dívida para com os cidadãos maiores, para que nunca se esqueçam de que lhes devem carinho e atenção porque estes já trabalharam muito por eles e para que eles tivessem (individual e socialmente) o que têm hoje. E isto ficou a moer-me o juízo. 

Começando pelo mais fácil... maiores?!?!?! "Maiores" poderá fazer sentido em Espanha, dada a sua tradição oral. Para nós, parece-me apenas estranho. Talvez seja eu a estar envelhecida e não conseguir ver mais além. Mas continuo a achar que tudo se resolvia facilmente se em vez de mudarmos a palavra, mudássemos antes a carga emotiva que lhe é associada. 

Porque é que "ser idoso" é assim tão mau? ou ser "sénior" (já de si uma "modernice")? Qualquer criança/jovem/adulto/idoso que não compreenda o privilégio que é atingir uma idade avançada irá continuar a colocar a carga perjorativa no "maior"... ou em qualquer outro termo para falar de pessoas com idade acima de 65 anos...

Passava as férias escolares com os meus avós, assim que os meus pais podiam também viajar. Quando penso em "avós" (e não necessariamente nos meus) penso em pessoas envelhecidas, com rugas e cheiros próprios (seus e das roupas), com dores e sorrisos e piadas que só eles entendem, e com conhecimento, da vida comum, da história, ou até do mais académico. Mas o mais importante é o que sinto, e isso sim muda tudo. Porque quando penso em "avós" sinto o carinho que tive deles e que foi cultivado pelos meus pais no resto do ano em que não nos víamos, porque fazíamos coisas importantes (e pequenas!) como telefonar ao avô semanalmente (pelo menos, porque a vida está(va) cara), enviar um postal de Natal aos avós, falar deles e das suas histórias (presentes e passadas) nos tempos partilhados pela família (refeições, passeios, festa e convívios...). Sempre com carinho, mesmo quando se falava dos defeitos. 

As emoções que associamos às palavras, são o que as torna boas ou más, para nós e para quem as ouve. E é com elas que demonstramos o respeito que temos ou não pelos outros... ou não seria possível, com as palavras mais correctas, dizer as maiores barbaridades possíveis a alguém.

Recuso-me a ensinar dívidas aos meus filhos. Acredito em ensinar respeito, afectos, reciprocidade, a cultivar a sensibilidade e a atenção para o que os nossos actos e palavras possam ter sobre os outros. Desde o berço que ouvem falar dos avós que nunca conheceram e da bisavó que ainda está viva, com visitas, e histórias e factos e fotos e desenhos, que ainda lhes conseguimos passar de tantos que eu própria já perdi. E talvez por isso, eles adorem os avós e não tenham medo de perguntar se podem fazer uma festinha à bisa, mesmo quando ela já teve dias em que foi mais bonita e comunicativa. E os avós, fazem parte deles enquanto pessoas. E sabem que existem mais avós no mundo para além dos deles.

Em vez de ensinar dívidas... que tal ensinarmos antes a cultivar afectos e respeito? Até porque estes se aplicam a idosos e a menos idosos também... a nós. Parece-me mais justo. Para nós, para as crianças, para os idosos e para a sociedade. Parece-me mais generoso também, darmos-lhes uma carga positiva - reconhecimento - em vez de dívidas. 
E sim, bem sei que nem todos os idosos são como eu descrevi. Eu também pretendo ser um pouco diferente. Mas sou toldada pela imagem que guardo dos meus avós... como esta, da Emília da Munha, de quem adorava as mãos, retorcida pelo gelo das águas e pela agrura do trabalho do campo. Quando me lembro das suas mãos, sinto uma onda de carinho a envolver-me. E não é por me lembrar do colo ou dos brinquedos que me deram, mas sim pelo carinho que sentia por ela... e dela. Sim, porque ela também me ensinou a respeitá-la e a gostar dela.

No Natal, fazem-me falta os meus avós. E a minha terra.

Até breve.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Ele vem aí!!!

Estas não foram tiradas agora... foi talvez há um ano, já não me lembro bem.

 
Mas é nevoeiro, o que vemos na serra. Daquele que parece algodão, que quase conseguimos agarrar. E vem, devagar, como alguém que segue o seu caminho, sem se importar com quem se cruza.
 
Nestes dias, na Roda Fundeira, o nariz fica gelado durante a noite, porque é a única coisa que fica destapada. De manhã, já com o galo cansado de cantar, ainda se houve o gelo a estalar na erva. As cabras sacodem as patas quando vão ao pastoreio.
 
Lembro-me de tudo isto e de adorar ir para a terra do meu avô (que na realidade até veio da Roda Cimeira...), mesmo sendo difícil brincar por estar tanto frio. Lembro-me de ficar à lareira na azáfama de se preparar o almoço e de ter o rosto vermelho de tão quente e as costas geladas do vento frio da rua que entrava pela meia-porta da cozinha. Lembro-me dos raspanetes ouvidos por queimar gravetos de pinheiro e fazer com eles mil desenhos no ar com a sua ponta incandescente.

 
Tenho saudades da Roda Fundeira. Tenho saudades de estar na escola e contar os dias para começar as férias de Natal, sempre garantia de visitar os meus avós. E tinha de estar frio, ou não parecia Natal. E lembro-me, avózinha, lembro-me tão bem do cheiro bom das fatias paridas deliciosas que fazias e que muitas vezes me recebia quando corria para a cozinha à tua procura, chegada desta terra que nunca vi muito como "a minha terra".
 
Já chegou o frio de Dezembro e é quase Natal. Só não tenho outra vez 8 anos...
 
Até breve.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Três gatos não pingados (ou quatro)


Na minha aldeia todos tinham gatos. Sempre. Todas as casas tinham um gato. Ou dois... a sua função era caçarem ratos e osgas, largatixas e outros bicharocos afins que não interessavam a ninguém.
Não me lembro, de entre as muitas que ouvi ao calor da fogueira, de histórias de pessoas a subirem para cadeiras ou mesas com pânico de ratos. Assim como nos filmes, quando se arrancam umas gargalhadas à plateia. Na verdade, era assim desde sempre: todas as casas tinham ratos. E, por isso, todas tinham também gatos para os caçar. 

Para além da caça, os gatos sentavam-se ao colo das velhas. Perdão, das cidadãs mais idosas. Das maiores, como agora se diz. (Sobre isso, falarei, mas não agora). Elas sentavam-se à fogueira (lareiras são modernices), quando tentavam aquecer os pés gelados duma vida a regar os campos. Nos banquinhos pequenos que hoje se vendem nas feiras "para enfeitar", como recordação do antigamente. Ou então, em tempos mais idos que já não conheci, no chão feito degrau, que todas as cozinhas tinham e que deixava a lareira num plano mais baixo da restante cozinha - o bordo da lareira. Diz-me a minha mãe que também lá se dormia, de vez em quando, os mais novos ou os mais antigos da casa, se o bordo era largo e o conforto da fogueira ganhava à vontade de um colchão de palha. 

Malhado. Pretito. Branquinho. Farrusco. Pintado. E até Tareco. Várias gerações de pedigree selvagem e batismo duvidoso passaram pela terra nas minhas férias. E, claro, Bicho, o nome mais habitual. 

Ultimamente, o Ti Salvador abrigava a Bicha Côca que namorou com o meu Chico, gato preto, lisboeta. Coisa fina!!! "Já sabia que tinham chegado, o teu Chico já lá foi à procura da minha bicha Côca! Cabrão do bicho, alembra-se bem quéla lá está!" E o meu Chico - Chico Moisés, como o meu pai gostava de lhe chamar - deixou por lá a sua semente, que ainda este ano me cruzei com um tetraneto seu, focinho e rabo igual ao do antepassado. Só menos marcado das lutas entre bichanos, disputando comer e gatas, por cima dos telhados, com unhadas fundas e uma cantoria inesquecível, própria do ataque. A concorrência será menor agora, com as casas vazias, também de ratos, pelo que as lutas também serão menos frequentes. Mas aquele olhar, aquele olhar era do Chico, do meu Chico.

Ainda me lembro do orgulho que senti quando consegui chamar os gatos lá de casa daquela maneira inconfundível: "Biiiiiiiiiicho, bsbsbsbsbssbsbsbssbsb...". Devia ter dois ou três anos. Cresci nesse dia. E quando passava por um muro destes, passei a tentar convencê-los a aproximarem-se. Que vitória!
Noutros tempos, o Bicho passava os dias enrolado no canto da cozinha, aquele que ele escolhera para seu. E aguardava pacientemente pelo mimo do colo cansado que o acolhia contente, e pela mão retorcida do frio que lhe acariciava o pelo quente do lume. E assim se passavam serões, com conversa ou sem ela, mas acompanhados nos estalidos do lume que quebrava os invernos rigorosos da aldeia.

domingo, 4 de novembro de 2012

Magusto Roda Fundeira - 2012

Aproveitando o fim de semana prolongado, proporcionado por um feriado que nos próximos anos deixará de o ser... rumámos à Roda Fundeira para repor energias!
 
E que melhor forma haverá de repor energias, do que comer uma bela feijoada misturada com umas castanhas, caldo verde e bifanas! Isto dito desta forma parece que foi tudo servido no mesmo tacho...mas nada disso!
 
Como vem sendo hábito nos últimos anos, a CMRF não deixou de acenar ao S. Martinho por estas alturas, realizando o tradicional magusto convívio. O tempo esteve farrusco mas não o suficiente para demover cerca de 100 pessoas a deslocarem-se à Eira Nova para mais um dia de convívio e confraternização que em termos gastronómicos começou com uma feijoada ao almoço e continuou pela tarde com as castanhas e jeropiga seguidas do caldo verde e bifanas, tudo esteve bom!
 
Para co-substanciar o "...tudo esteve bom!", nada melhor que olhar para as imagens abaixo!
 
Na primeira foto e apesar da bengala coletiva indiciar muito reumatismo, as travessas não chegaram atrasadas à mesa! Com o Antero e o Paulo ao leme a equipa da bengala só teve que a largar! Ao olhar para esta foto ainda me lembro do dizer "o meu pai é o Pinto da Costa e a minha mãe o Vitor Baía!".
 
Porque será?

 
Porque será?


Pelo 2º ano consecutivo um grupo de amigos das moto 4 e da Roda Fundeira aproveitaram o evento para cortar as serras desde Coimbra à procura da bendita feijoada...e da jeropiga... objetivo cumprido!


Na cozinha estava tudo a postos, as mesas estavam compostas, toca a servir...
 

 
 




 
Após o almoço o digestivo e bons momentos...
 

 

 
 
 

Chegada a hora da castanha é dado de novo o toque de reunir e a concentração volta a ser em torno da mesa...



 

Lucinda Claro com o Inspetor Rui Farlens...


A Lena a tratar bem o seu João! Assim sim... quem merece, merece!


Entretanto cá fora recebiam-se mais alguns convidados que não puderam estar presentes no almoço, mas não quiseram deixar de marcar presença no evento.


Boas notícias!!! As fotos do fotógrafo oficial das festas de verão, apareceram! Em breve trarei aqui mais imagens a cheirar a verão!
 
 
E como festa na RF não é festa sem concertina, o Cid deu o mote...
 
 
 
 
Para terminar e correndo o risco de me tornar repetitivo foi uma festa tranquila onde os objetivos foram cumpridos, em sumO tudo correu bem!

 
 
Até breve!

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Comer, beber, rir e cantarolar... na Roda Fundeira

O povo da Roda Fundeira gosta de comer, beber, rir e cantarolar. Todos sabemos disto. Quando se prepara um encontro, espera-se bom petisco, boa pinga (seja tinto, branco, doce ou jeropiga), boa conversa e umas cantorias à mistura. Algumas vozes são repetentes com muito gosto de quem canta e de quem ouve, mas de vez em quando temos umas boas surpresas como a da Isaura David no ano passado. Quem se revelará este ano?....

Apesar de falar de zonas lisboetas, sempre que penso em castanhas inevitavelmente sinto o cheiro do fumo perfumado no ar e oiço ao fundo:
 "Quem quer quentes e boas... quentinhas! 
A estalarem cinzentas, na brasa.
"Quem quer quentes e boas... quentinhas?
Quem compra leva mais calor p'ra casa."

Fica o vídeo (cortesia do You Tube, claro está!) ou o link (  Fado "O Homem das Castanhas", por Carlos do Carmopara poderem deliciar-se com esta bela música. 


Então... Já sentem o cheirinho a castanha assada no ar?

Pois é, meus amigos, está quase aí o nosso São Martinho na Roda Fundeira. Já se inscreveram para o almoço de dia 03 de Novembro? O prazo limite para a inscrição termina já no domingo!!!!! É importantíssimo sabermos para quantos preparamos feijoada ou, se as inscrições forem à última hora e fora de prazo, corremos o risco de ter de contar os feijões... e isso todos sabemos que não combina com a maneira Rodafundeirense de servir os amigos, não é verdade?

Inscrevam-se!!!! Fica o cartaz para o caso de terem esquecido os números. 


Um abraço. 

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Festas 2012 - Os torneios

Todos os anos publicamos os vencedores dos nossos torneios. E este não será excepção... A dificuldade está mesmo em ter as fotos dos nossos campeões... ou os nomes de todos!!! É que eu guardei tão bem a minha "cábula" que agora não sei onde está...
 
Fica o desafio-  quem acertar nos nomes todos tem um prémio surpresa na Roda Fundeira...

Torneio de Matraquilhos
1º classificados (atletas internacionais de Aveiro!!!):
 
 
2º classificados:

Torneio de Snooker
1º classificado: 
2º classificado:



Torneio de Ténis de Mesa
1º classificado:
 2º classificado:

Torneio de Chinquilho
1º classificados:

2º classificados:

Torneio da Sueca
1º classificados:
 
2º classificados:
 
A todos os que participaram, quer como atletas (de altíssima competição), quer como júri, juízes, coordenadores ou assistentes, em nome da Comissão de Melhoramentos da Roda Fundeira, deixo aqui o agradecimento por tornarem possível esta aventura anual.
 
Deixo também um obrigado muito especial à Cátia Maio, correspondente de imprensa no local, pelas fotos enviadas e que possibilitaram ao Blog dos Amigos da Roda Fundeira a publicação desta notícia.
 
A nossa festa é assim: feita por todos e para todos!
 
Um abraço.

domingo, 30 de setembro de 2012

Sugestão de fim-de-semana - Magusto em Roda Fundeira

 
Foi anunciado há dias em horário nobre na televisão. Até parecia mentira, mas não... é oficial. Depois o tempo mudou e pareceu interiorizar o anunciado, com chuva e frio, com vento e nuvens... chegou o Outono!
 
O outono é tempo de.... blá, blá blá.... e por isso todos nós... blá, blá blá, blá blá.
 
O que interessa mesmo é que no dia 03 de novembro vamos dar continuidade à tradição de festejar o São Martinho à moda da Roda Fundeira que é como quem diz:
- Feijoada da caseira, boa e consistente, apuradinha e bem deliciosa
- Castanhas assadas na bela fogueira, farruscas e saborosas, sem recheio (esperemos...)
- Jeropiga aprovada pelos melhores escanções da região, de cor límpida, aroma forte e encorpado, leve travao a frutos e alto teor de alcool...
 
Para além dos cabeças de cartaz anunciados, teremos também enchidos caseiros, febras e entremeadaas à descrição, bom tempero, boa pinga, bom serviço. E, como de costume, bom convívio e amizade, bons tempos na Roda Fundeira e mais um fim-de-semana de festa a reordar.
 
Geralmente, também se junta a jogatana do costume, os tocadores e cantadeiras, o acordeões e concertinas e os fados. Enfim... um fim-de-semana em cheio na Roda Fundeira!!!

 
Para mais informações, contactem o vosso agente do costume (nomes e números no cartaz) e reservem já - data limite para inscrções no dia 28 de Outubro.
 
No ano passado, posso dizer-vos que almoçámos feijoada todo o fim-de-semana, petiscámos febras e entremeada todo o fim-de-semana e as castanhas e jeropiga também nos acompanharam sempre... tal como a boa disposição e a certeza de continuarmos a trabalhar para construirmos o nosso Complexo de Lazer da Foz Palheiros.
 
Um abraço.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Festa 2012 - As concertinas

Que o gosto pelas concertinas é uma marca intrínseca às gentes da terra, não é novidade! Agora que os ares da Foz Palheiros atrairiam o manancial de tocadores e tocadora que as fotos abaixo confirmam, para mim já foi uma novidade...


Como cabeça de cartaz o "nosso" Ernesto, que no dia da inauguração do Complexo de Lazer, acompanhado pelo primo Hugo conseguiram puxar para o palco duas cantadeiras de qualidade inquestionável e que se entenderam tão bem que parecia que cantavam juntas desde a escola primária... 



Nos dias seguintes outros mestres da "sanfona" quiseram mostrar os seus créditos e entre alguma modéstia, lá foram soltando interessantes notas musicais...



Claro que para bom tocador, bom cantador, na foto parece que a música do Ti Jaquim estava a dar sono à plateia, mas não...aqui canta-se com alma!!




Uma mensagem especial para a Aurília que representou o sexo feminino...e bem!!!


Mesmo com fotos de muitos tocadores, ainda assim não os apanhei a todos, o Carlos Sousa, aqui a descansar, também fez das suas com a "menina" ao colo...


O doce trinar dos acordes do Ataíde, cativou até o público mais jovem...


Mais uma vez, parafraseando a Srª Presidente da C. M. de Góis,

Não há festa como esta!!!!


Até breve.