sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Vou para a terra!

Está quase na hora de partir para a nossa bela aldeia. Para os mais antigos,a viagem era memorável: apanhava-se o comboio em Santa Apolónia às 23:20 e chegava-se à Serra às 10h. Quando se tinha sorte (!), apanhava-se a carreira logo em Coimbra. Das outras vezes ía-se de automotora até à Lousã e, aí sim, seguia-se na carreira.

A viagem era de grande conforto ao lado de cestas e embrulhos de prendas para a família da aldeia: uma peça de tecido para as irmãs fazerem a blusa para o dia da festa, uma toalha para o enxoval da afilhada, umas meias para as filhas ou sobrinhas, uma caixa de bombons para a namorada ou mesmo uma simples carcaça para a primita mais nova...

Claro que as mulheres aguardavam o regresso dos filhos/namorados/pais/maridos com ansiedade. Aliás, com diferentes tipos de ansiedade: para confirmarem a magreza que a má comida(e vida) de Lisboa lhes trazia/para constatar que as olheiras eram tão profundas como as farras deveriam ser/ para voltarem a ouvir a voz grossa e forte que recordavam com saudade e desejarem não ouvi-la durante a festa/ para matarem saudades do aconchego e ficarem com saudades da normalidade dos outros dias.

Enfim, aquilo é que eram viagens e regressos à aldeia. E em Lisboa toda a gente sabia o que queria dizer "ir à terra". Significava matar saudades da boa sopa de feijão com cheiro a toucinho, da boa broa e do carinho e amor dos braços amigos e amorosos que recebiam e despediam, sempre apertados e sentidos. Talvez também houvesse o bónus de poder ajudar nalguma tarefa mais pesada do campo.

Muitos anos depois, passou a significar ir ver os avós, mas isso fica para outro post.

Amigos, vou para a terra! Venham também!

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