
Adriano Pacheco é um contador de
histórias nascido em Alvares. Em prosa ou em verso, dedica-se a gravar as
tradições e viveres serranos no tempo e na memória. O seu 16º livro divide-se
em sete contos correspondentes a momentos de uma vida igual a
tantas outras. Essas vidas que conhecemos e que talvez não nos tenham merecido
mais que um par de tardes debaixo da latada, por vezes até à noite dum velório,
em conversas sopradas de mulheres à beira do caixão, ou afirmações absolutas de
homens fora de portas sagradas. Às vezes já sem tempo de serem comentadas com quem as
partilhou, tardias, mas ainda tão a tempo de não se perderem.
O Presidente do Concelho Regional, Dr. Luís Martins referiu o seu orgulho pela preferência do autor pela Casa do Concelho de
Góis para o lançamento do seu livro em Lisboa, pelo valor da sua obra e pelo
significado que tem para a região. A CCG, ao fim de 61 anos de funcionamento, congratula-se de apoiar as iniciativas dos seus associados e dos descendentes
da zona, mantendo-se activa enquanto algumas desaparecem, como referido mais
tarde e visível na satisfação do seu Presidente da Direcção, Sr. José Dias Santos.
O livro foi apresentado pelo
Eng.º João Coelho, autor do prefácio e fiel seguidor do trabalho do escritor.
Dedicado há 40 anos ao movimento regionalista, conhecedor da região e das suas
vivências, o Eng.º João Coelho salientou na sua intervenção o valor desta
recuperação dos pormenores, das expressões e das visões do mundo e da vida que
Adriano Pacheco consegue na construção das suas personagens. Este registo,
conseguido pelo autor (em conjunto com outros da região) deixará no futuro um
legado que de outro modo corre o risco de desaparecer, tendo por isso um valor
incalculável. Tal como o tempo que todos os presentes deram a este
acontecimento – um tempo partilhado, em jeito de oferta do bem mais precioso
que temos.
Estiveram também presentes
Cristina Coelho, da Comissão de Melhoramentos de Roda Fundeira e António Rui
Dias, da Comissão de Melhoramentos de Alvares, que ajudaram a promover este
evento junto dos seus associados e amigos e das restantes colectividades da região. António Dias salientou, entre outras coisas, o gosto que ambos colocaram nesta divulgação,
fomentando a união dos serranos, à semelhança dos festejos históricos ocorridos
durante o ano passado.
Adriano Pacheco falou pouco, mas
emocionado. Humilde nos agradecimentos que fez, ciente da missão de salvar do
esquecimento aquilo que nos caracteriza e que nos constrói enquanto pessoas,
focou a identidade com uma região, um modo de viver. Somos quem somos pelas
raízes que temos.
Poderia ter acrescentado na
altura que sou uma neta e filha que cresceu a ouvir as histórias à lareira, às
vezes apanhadas entre meias-palavras que só ganhavam significado anos mais
tarde. Que tenho também noção que são poucos os da minha geração que ainda
conhecem as expressões da aldeia e da sua vida, tal como eu própria só recordo um punhado. Que o trabalho voluntário que
fazemos para os conservar é estranho a alguns e incompreensível a outros, mas
precioso para nós, para mim. Que me orgulhava de estar naquela mesa, de
representar a Comissão, de divulgar uma obra que falava dos meus avós, tios,
pais, primos. Que poderia fazê-los chegar aos meus filhos, com pormenores que o meu
crivo já tolheria. E que agora ficam.
Foi no sábado, dia 21 de Novembro,
na Casa do Concelho de Góis às 15h00.
Um abraço.