sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Saltarisco

E este, meus caros amigos, é o saltarisco!

Também conhecido por gafanhoto, por terras menos serranas, este malandro dáva-me muito que fazer sempre que me predispunha a ajudar o meu primo Carlos Alberto a ir à pesca. Claro que em tempos idos, que isto de andar a correr atrás de saltariscos pelo mato tem o seu prazo de validade bem determinado na idade de qualquer um de nós... Mas o que é verdade é que bem me divertia!

Aprendi com os conselhos sábios do meu primo (exímio pescador, todos bem sabem) que os melhores eram os verdes. Não os sportinguistas, mas os de asas verdes. Ora claro está que as asas dos saltariscos só se vêm quando eles... saltam. Já se adivinha porque é que me divertia tanto na "caça": a minha tarefa era primeiro fazê-los saltar pelo que tinha de correr pelos campos.

Depois da prospecção, recolhíamos os candidatos mais agradáveis para dentro de um saco de plástico (devia fazer parte da anestesia) e íamos para a Foz Palheiros tentar enganar os peixes. Lá o meu primo fazia a parte mais complexa e badalhoca disto tudo: tirava-lhes a cabeça e predia-a ao anzol. O resto ia fora, o que sempre me pareceu um verdadeiro desperdício - tanto trabalho para deitar a parte maior do bicho fora! ainda me lembro de tentar uma vez fazer esta parte, mas entre a minha falta de jeito, o nojo da coisa e o medo que o meu primo tinha que me espetasse no anzol, não correu muito bem... Assim determinámos que, das vezes me que o ajudei, eu apanhava o isco e ele dáva-lhe uso.

Recordo-me ainda de ele me tentar ensinar que os vermelhos eram para pescar no poço negro já não sei o quê e que os azuis também eram muito melhores para outra coisa qualquer. Enfim, nunca fui grande pescadora...

O que é verdade é que naquele tempo o que era difícil era andar por aquela terra, com estradas ainda por alcatroar, sem que dois ou três destes amiguinhos poisassem em nós entre dois saltos. Eram verdes e pequenos que havia muita gente a precisar de isco. Este ano na Páscoa, quando visitei a nossa aldeia pela última vez, encontrei para lá uns quantos também verdes mas em tamanho gigante, a fazerem lembrar os escolhidos para o papel de praga biblica nos filmes temáticos...E juro-vos que não tentei arrancar a cabeça a nenhum desses. Mas ainda fiz o meu papel de mãe e ensinei aos meus filhotes que aquele gafanhoto se chamava saltarisco...

Um abraço.

1 comentário:

Unknown disse...

Adorei o que escreveu. Também fiz o mesmo... a parte pior era realmente iscar o pobre animal no anzol. Primeiro era arrancar-lhe as asas e as patas e depois espetar-lhe o anzol pela cabeça. As nossas mãos ficavam com um liquido viscoso de um castanho esverdeado. Mas para apanhar um barbo valia a pena a sujeira e com um pouco de sorte até apanhar uma enguia mais distraída. Obrigado.
(Porto Ribeiro, Rio Ceira).