Tenho várias recordações da Ti Ilda na sua porta azul enquanto, gaiata, passava pelo lugar a correr, a brincar à apanhada ou às escondidas, ou apressada à procura de companhia para o banho. Mas quando soube desta triste notícia, o que me veio à cabeça foi algo que apenas descobri ao escrever o post dos doces de Natal...
Passo a explicar.
Não será por acaso que oiço dizer que quando havia festa na Roda Fundeira vinham rapazes de "detrás do sol posto" para dançar com as nossas raparigas... As mulheres da Roda Fundeira sempre mostraram ser empreendedoras e esforçadas, conseguindo com os seus poucos recursos, mas com vontade férrea e árduo trabalho, chegar onde todos os outros chegavam. E, às vezes, um pouco mais além...
Preparar um casamento na aldeia não seria fácil. Embora não fosse minimamente semelhante ao aparato actual, mas era preciso fazer (e inventar, porque esta não abundava) comida para a família que, invariavelmente, implicava meia aldeia. E a outra metade apoiava na logística: cozinhar, servir, dar o "salão", preparar as mesas, os arcos, convencer o tocador... mas isso fica para outro post.
No post de hoje quero falar-vos das iguarias hoje tão vulgares mas em tempos antigos guardadas religiosamente para ocasiões muito especiais. Aliás, quero falar-vosde uma iguaria em especial: o bolo de café da Ti Ilda!
Conta a lenda (isto dá um ar mais respeitável ao que vos vou contar) que o pão-de-ló era já feito há muitos séculos (!) na Roda Fundeira. Num belo dia de madrugada, saiu da aldeia a Ti Ilda para ir à Serra ajudar no casamento da Lurdes do Ti João Sardinheiro.
Fontes de informação (para dar um ar ainda mais respeitável) dizem que terá regressado desta viagem com um pequeno tesouro: a receita para um bolo de café! A inovação estava no sabor mas também, no facto de ser feito num tabuleiro e não na tradicional forma de bolos. Um bolo rectangular, imagine-se!
Também eu fiquei surpresa ao ouvir este relato, uma vez que desde miúda me habituei a ouvir leiloar o bolo de café da Ti Olinda (que até apareceu pela Munha no verão em que estava grávida do Rafael!) e heis que a História se reescreveu para mim!
Sim, é apenas mais uma curiosidade. Mas continuo a acreditar que são estas que dão cor às nossas vidas.
Um abraço e bom fim-de-semana para todos!
2 comentários:
O nosso muito obrigada por esta homenagem,
a família da Ti Ilda
De todas as vezes que perdemos algum dos nossos, a Roda Fundeira fica um pouco mais pobre.
Esta é a nossa humilde forma de tentarmos guardar um pequeno tesouro: a nossa memória colectiva das gentes e dos costumes da Roda Fundeira e Relva-da-Mó.
Um abraço a todos.
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