Porque ainda estamos na semana do Carnaval e em vez de cantar "cidádiii márávilhósaaaaa, chêêêia di encântos miuúúuú..." resolvi trazer-vos algo muito mais...português. As tradições de Carnaval da Roda Fundeira e Relva da Mó!
Nas nossas aldeias, à falta de serpentinas e confetis, nos tempos que precediam o Carnaval todos juntavam os cacos que se íam partindo (jarras, vasos, vasilhas, pratos) e guardavam. Estas preciosas "munições" eram usadas em partidas: silenciosamente, aproximava-se das casas dos vizinhos e, sem ser visto (pormenor muito importante!) "atirava-se uma cacada"!
Claro que tudo só era possível graças ao óptimo costume da "chave na porta" e à confiança que reinava na aldeia. E claro também que quem recebia a cacada não achava assim tanta graça: teria de limpar todos os pedacinhos de louça espalhados do seu chão, misturados ou não com cinza ou terra, dependendo da boa vontade do artista. E nos dias seguintes era feito o ranking: "na minha casa só deitaram 2, na de fulano atiraram 5!" ou, entre os mais malandros: "eu atirei 6 e tu?". Há quem diga que havia casas onde só um ano conseguiram deitar cacadas, enquanto que outras eram alvos mais fáceis.
Contam os mais antigos que também havia quem se mascarásse: geralmente os homens vestiam-se de mulher e vice-versa, com uns narizes vermelhos bem grandes ou outros adereços da época. Que lindos!
Mas o ponto alto seria o correr do entrudo, em que se soltavam as línguas e se recordavam e riam episódios de todo o ano. Nesta época, quando se juntavam os foliões, em jeito de cantiga ou anedota, eram recordadas as falhas, faltas ou asneiras que, ao longo do ano, haviam sido motivo de riso: uma mulher que queimara a broa toda no forno por esquecimento, um homem que rasgara as calças na lida do campo (em sítio menos próprio), uma tarefa mal feita por um "caloiro", ou outras coisas que tais. Ao longo do ano, aliás, quando alguém era apanhado em falta, havia o costume de dizer-se: "vê lá se queres que te corram o entrudo"!
E embora fosse tudo feito apenas com a maldade necessária a uma boa gargalhada, o mais engraçado é que ainda hoje há quem se lembre que neste ou noutro ano correram o carnaval à Ti ou ao Ti porque...
É bom quando estas coisas chegam até nós. Alguém sabe mais? Então contem-nos!
Um abraço e até breve.
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